segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Camboriú terá o primeiro centro para treinamento de cães-guia do país

Marjorie Basso  |  marjorie.basso@osoldiario.com.br

Camboriú terá o primeiro centro de treinamento de cães-guia do país. O convênio com o governo Federal para implementação do projeto será assinado nesta segunda-feira, para que a partir de janeiro do ano que vem sejam iniciadas as aulas do curso técnico, com duração de dois anos.

A meta da União é criar mais dois centros semelhantes em outras regiões. O campus do Instituto Federal Catarinense em Camboriú foi o escolhido para abrigar o centro pela região ser referência no treinamento de cães-guia. Há mais de 10 anos, a escola Helen Keller funciona em Balneário Camboriú, a única do país com treinador reconhecido internacionalmente. A escola foi mentora do projeto.

Diretor executivo da Helen Keller, Paulo Bernardes conta que as aulas serão em período integral e a intenção é formar alunos que possam difundir a técnica em outras regiões do país. Os profissionais da escola ajudarão a difundir esse conhecimento junto aos estudantes.

A escola, que já treinou quatro cães-guia, tem outros dois cachorros em treinamento. Com a implantação do centro, serão treinados 78 cães. As famílias que receberão esses animais na etapa de socialização já estão cadastradas. Antes de receber treinamento específico para atuar com deficientes visuais, os cães passam um período de em média 14 meses com famílias para aprender rotinas básicas.

Com a criação do centro em Camboriú, mais pessoas terão a oportunidade de contar com o auxílio de um cão-guia. Jair Soares, 41 anos, ficou cego depois de um acidente, e por 13 anos dependeu de bengala. Ele conta que ficou o tempo todo esperando para ter um cão-guia, mas na época os cachorros eram treinados somente na Austrália, referência neste tipo de treinamento.

Assim, a espera de Jair foi se prolongando. Há mais de três anos ele recebeu Sita, uma cadela dócil, que hoje tem quatro anos e meio. A cadela foi treinada na Helen Keller e desde então a vida de Jair mudou, ele vai a todo o lugar com ela. Já viajou para São Paulo, Brasília e até para o Piauí com Sita lhe fazendo companhia.

- A bengala é um objeto, não te protege de nada, diferente do cão-guia que consegue ver o obstáculo - explica.

Ele conta que, no início, Sita lhe pregava algumas peças como virar para o lado errado e fazer com que o dono se batesse. Mas isso mudou nos primeiros dias de convívio, assim que ela também passou a ter confiança nele. Hoje, apesar da relutância de seguranças de alguns estabelecimentos, que tentam impedi-lo de entrar com a cadela, Jair não vai a lugar algum sem Sita.

Animais passam por socialização e treinamento diárioO treinamento de um cão-guia leva quase dois anos. Fabiano Pereira é o treinador da Helen Keller. Segundo Paulo Bernardes ele é o único no país com capacitação reconhecida internacionalmente.

- São três brasileiros, um foi para a Austrália fazer o curso e não voltou, o outro se aposentou e o Fabiano é quem treina atualmente - explica.

Pereira explica que depois que nascem, os cães passam pela socialização com famílias cadastradas. Eles ficam nessas casas até a fase adulta, quando completam 14 meses. Nesse período, os animais são expostos a rotinas de passeios e convívio com as pessoas. Só depois disso é iniciada a fase de treinamentos, com duração de seis meses.

Esta etapa ocorre em ambientes naturais. O treinador anda de ônibus com os cachorros, vai à praia, atravessa avenidas movimentadas, passa por chuva e calor. Fabiano Pereira diz que é possível treinar até seis cães por vez e o treino ocorre diariamente, de segunda a sexta-feira.

Segundo Paulo Bernardes os cachorros treinados são comprados pela própria escola, que aceita doações. Podem ser treinados cães das raças Labrador e Golden Retriever, devido ao temperamento dócil e à inteligência.

Protetor
Elias Diel, 38, foi o primeiro deficiente visual da região a receber um cão-guia treinado pela escola. A labradora Winter está com ele há quatro anos e já virou membro da família. Margarida Diel, 66, mãe de Elias, conta que a cadela é mais comportada do que muita criança.

- O cão assume a postura de responsável na condução de um cego, depois de um treinamento mais afinado, ele vai reconhecer o sinal correto para atravessar, vai perceber que acima dele tem um objeto e que ele tem que proteger o cego de obstáculos, como um orelhão, por exemplo - explica o diretor executivo da escola.

Espaço inclui canil e centro de convivência para cegosO projeto do centro de treinamento no Instituto Federal Catarinense surgiu há três anos, quando a coordenadora do projeto, Márcia Santos Souza, conheceu um professor deficiente visual:

- Nas conversas com ele, pensamos em fazer o projeto. Começamos a plantar uma sementinha pequena que foi se modificando. E o governo federal comprou a ideia.

O curso formará cinco profissionais por turma. Eles contarão com uma área de 2,5 hectares e 1,8 mil metros quadrados de área construída para o trabalho com os cães. Além disso, o centro terá uma área de convivência para cegos, onde eles ficarão hospedados para manter contato com os animais. O local tem ainda canil para 48 cachorros, clínica veterinária e maternidade. O SOL DIÁRIO


Nenhum comentário:

Postar um comentário