segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Por que meu cão ficou agressivo?

Publicado em: 8/10/2011 19:57:49
Em alguns casos, essa atitude começa como uma brincadeirinha bruta, um rosnado quando mexemos na comida ou brinquedinho predileto dele, ou na tentativa de proteger o dono quando transportado no colo. Ver um filhote nervosinho é até engraçado, mas esse comportamento pode ser o aviso de que problemas maiores poderão vir.
Sempre que acontece um incidente envolvendo cães, ouvimos o seguinte comentário: "Ele atacou do nada, era muito dócil!". Por trás dessa frase existem algumas coisas que não são descritas ou simplesmente são esquecidas. O grande problema é que geralmente essa parte da história que não é contada traz o porquê do incidente ter acontecido.
A maioria dos casos onde acontece a agressão tem sim uma explicação, mas as pessoas tendem a buscar essas respostas na loucura momentânea do animal, ou que o mesmo estava possuído por alguma força mística.
Pesquisei muitos casos de agressões cometidas por cães, principalmente pelos de grande porte, que causam mais estragos e geralmente as vítimas precisam de internação, e, consequentemente um boletim de ocorrência é lavrado na polícia, onde o acontecimento deve ser narrado. Percebi, com muita clareza, o quanto essas informações são omitidas por vários motivos: por medo de sofrer alguma punição, ou por vontade de se desfazer do animal após o acidente.
A imprensa, geralmente, acompanha esses fatos, e durante a cobertura, é muito comum os jornalistas colherem depoimentos de vizinhos ou pessoas que presenciaram o ocorrido e os veículos de comunicação mostram o animal agressor, mas dificilmente mostra-se o proprietário ou sua versão sobre o ocorrido.
Tendo visto isso com muita frequência, pude notar a falta de preparo de muitos tutores e como, através da informação passada de forma parcial por alguns meios de comunicação, contribuíam para que novos casos acontecessem, devido às explicações sobre os ataques serem parciais e, geralmente, com apenas um culpado: o próprio cão.
Entrevistei uma série de tutores que tiveram seus cães envolvidos em ataques e, para minha surpresa, pude perceber algumas coisas em comum entre esses ataques: primeiro, perguntava sobre o ataque e como aconteceu. A resposta era sempre a mesma: "Ele era dócil e atacou do nada!", mas conforme a conversa continuava e a pessoa começava a confiar mais em mim, as histórias mudavam de rumo.
Questionados sobre como o cão protegia a casa, logo esses tutores orgulhosos começavam a se gabar de como eram eficientes esses guardiões e, com relação a tratamento, a resposta era sempre muito parecida: somente uma ou duas pessoas da família conseguiam dar cuidados como alimentação e higiene. Quando o assunto era atividade e visitas ao veterinário, a coisa piorava.
Outra situação frequente nos casos de animais que se envolveram em problemas era com relação à postura da família, com a finalidade do cão na residência, que, na sua quase totalidade, era para serem somente guardiões e com toda certeza eram preparados para tal função.
No momento em que perguntava sobre o temperamento do cão, depois de muita conversa, aí começava a aparecer os verdadeiros sinais que esses cães deram antes dos ataques. Nos relatos sempre surgiam situações onde o filhote rosnava quando a brincadeira ficava muito agitada, ou que o cão era muito ligado a uma pessoa e ciumento, ou que já tinha hostilizado alguém da família e já havia se envolvido em uma briga com outros cães com resultados fatais e com agravante: seus tutores se orgulhavam ao relatar tais feitos.
Coloquei essas informações apenas para enfatizar que são raros os casos onde os cães atacam sem dar nenhum sinal. Alguns podem atacar nas seguintes situações: por medo, protegendo suas crias ou por estarem machucados, sentindo dor, mesmo assim dão sinais de que vão morder. Nos casos dos agressivos, esses sinais foram dados ao longo da vida desse cão, mas que, infelizmente, não foram percebidos ou simplesmente foram ignorados por conta da necessidade de se ter um cão de guarda.
Quero dar algumas dicas de como reconhecer e evitar que o seu amigão desenvolva algum descontrole com relação à agressividade. Sempre que for alimentar seu filhote observe se ele avança como se fosse tomar a refeição e tente tirar para ver o quanto ele tolera essa sua atitude. Se ele avançar, procure educá-lo e mostre que ele só pode chegar ao pote quando você permitir, isso vai tirar a sensação de que ele toma de você a comida. Se ele rosnar, você deve ensiná-lo a esperar através de comandos a se afastar para receber mais comida. Dando em pequenas porções a ração e praticando o comando "espera". Desta forma, ele será dessensibilizado e passará a entender que você traz mais alimento e não vai tomar dele o que tem.
Evite brincadeiras que possam dar a falsa impressão de que ele sempre vencerá você como cabo de guerra. Sempre brinque com seu amigão colocando regras do tipo: você começa a brincadeira e você termina, desta forma ele vai entender que o brinquedo não é só dele, o que causa possessividade, e que ele deve ser compartilhado para que a brincadeira seja muito legal.
Socialize seu mascote, levando ele a lugares movimentados, onde tenha pessoas, cães e, se possível, outros animais, com isso será possível diminuir a curiosidade sobre esses seres e coisas, o que pode se transformar em obsessão.
Se você mora em locais com grande movimentação, tais como escolas, empresas, terminais de ônibus e metrôs e circulação excessiva de transeuntes, evite deixar seu cão solto no portão no horário de maior circulação. Algumas pessoas e, principalmente, crianças podem hostilizar seu amigão e ele aprenderá a não gostar dessas pessoas. Para quem tem cães de grande porte é fundamental educar, adestrar seu peludo, pois isso ajuda muito na hora dos passeios e manuseio.
O tutor de um cão com impulsos fortes para guarda deve ser muito cauteloso. Além de ser adestrado, esse cão deve sempre estar sob atenção constante, nunca deixe ele com visitas que frequentam sua casa esporadicamente. Quando for a passeios, que podem ser frequentes, use guia adequada, colar e focinheira. Sempre que alguém se aproximar, avise que ele não é muito sociável e pode morder. Se tiver que receber visitas é importante que tenha na casa um espaço onde ele pode ficar tranquilo sem ser incomodado pelas visitas, mesmo que só para vê-lo, isso pode irritá-lo, pois estão invadindo o território dele. Evite deixá-lo solto onde tem pessoas que ele não conhece, mesmo sob sua supervisão, por mais rápido que você seja, um acidente pode acontecer.
Não afaste o cão de forma alguma de sua família. Ele deve reconhecer todos e saber quem ele deve proteger e não se engane achando que um bom cão de guarda é aquele cão enlouquecido que passa o dia tentando atacar a todos os que passam na frente do seu portão. O bom cão de guarda deve ser muito equilibrado e saber o momento certo que deve proteger aos seus.
Lembre-se: por mais belicoso que seja seu cão, ele nunca deve ficar confinado em locais fechados ou correntes. Quanto mais longe das pessoas, mais problemático esse cão poderá se tornar, ele nasceu para viver em grupo: ter vida social. Tirar isso dele pode torná-lo frustrado e estressado e, consequentemente, agressivo.
Terminando, se seu amigão já apresenta esses sintomas do quais falamos, procure ajuda, não deixe que as coisas fujam do controle, pois o final disso a gente já conhece: a corda arrebenta do lado mais fraco, e inocentes sofrerão. A culpa será de quem foi a maior vítima de tudo: o melhor amigo do homem, nosso cão!

Por Jorge Pereira
Cinotécnico e etólogo

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